Guia rápido sobre CoCos Bonds depois da compra do Credit Suisse

Comentário Semanal
quarta-feira, 29 % março, 2023

Nas últimas duas semanas, os mercados experimentaram níveis de volatilidade não vistos desde a pandemia, resultado da quebra do Silicon Valley Bank, que posteriormente levou ao declínio e compra do Credit Suisse pelo UBS AG.

Durante o fim de semana de 18 de março, o UBS AG concordou em comprar o Credit Suisse por US$ 3,2 bilhões (menos de US$ 0,8 por ação) e com consideráveis ​​facilidades e garantias do regulador suíço, Swiss Financial Market Supervisory Authority, FINMA. Embora os termos desta compra tenham sido muito discutidos pelo mercado, o que mais causou controvérsia foi o tratamento dado pelo FINMA aos títulos subordinados Jr. ou Contingentes Conversíveis (CoCos). 

O que são os CoCos e por que são relevantes? 

Os Contingentes Conversíveis (CoCos) são títulos subordinados Jr. que agem como um amortecedor se os níveis de capital regulamentar de um banco caírem abaixo de um determinado limite. Se isso acontecer, eles podem ser convertidos em capital ou cancelados.

Esses instrumentos fazem parte do buffer de capital que os reguladores exigem que os bancos mantenham para fornecer suporte em tempos de turbulência do mercado. Ou seja, os bancos são obrigados a manter um certo nível de CoCos em sua estrutura de capital.

E o ponto mais importante para os propósitos deste comentário, os CoCos têm classificação superior às ações na estrutura de capital de um banco. Se um banco tiver problemas, os detentores de títulos estarão à frente dos acionistas para recuperar seu dinheiro. É por isso que esses títulos têm mais correlação com o movimento das ações dos bancos.

O que aconteceu com os CoCos do Credit Suisse?

Durante esse fim de semana, a FINMA decidiu alterar a hierarquia da estrutura de capital, concedendo alguma recuperação aos acionistas do Credit Suisse, mas cancelando todos os CoCos desse banco, em um total de $ 17 bn.

Como reagiram os mercados e otros reguladores?

Na segunda-feira seguinte aos acontecimentos, o mercado entrou em modo de risco para essas obrigações, por considerar que o precedente dessa operação poderia alcançar os CoCos de outros bancos que, em média, caíram entre 10-15 pontos percentuais nesse mesmo dia, e os prémios de risco de crédito do Tesouro dos EUA aumentaram cerca de 200 pontos base (bps).

Diante disso, os reguladores tanto na Europa, como o Banco Central Europeu e o Banco da Inglaterra, quanto o Federal Reserve nos Estados Unidos, se pronunciaram perante o mercado, deixando claro que o procedimento FINMA não seria aplicado em suas jurisdições, e que seria respeitada a hierarquia da estrutura de capital dos bancos em caso de insolvência, pois o sistema financeiro dessas regiões era sólido e com liquidez suficiente. Esses anúncios ajudaram a dar segurança ao mercado.

O caso dos CoCos do Credit Suisse pode se generalizar?

Não, é importante levar em conta que a Suíça é uma jurisdição diferente do resto da Europa. Assim, o BCE não pode agir ou interferir na Suíça e vice-versa. Além disso, na Europa existem precedentes de que a hierarquia na estrutura de capital foi respeitada durante as liquidações bancárias. Primeiro, em 2017, quando o Banco Popular foi adquirido pelo Santander SA. E a mais recente, com a venda do Silicon Valley Bank UK para o HSBC. Em ambos os casos, a primeira linha de defesa para absorver as perdas foram as ações ordinárias e posteriormente os CoCos. 

Outro ponto importante é que os gatilhos para CoCos são diferentes na Suíça em comparação com os emitidos no restante da Europa. Os Swiss CoCos se cancelam de maneira permanente, assim que o índice de capital caia abaixo do limite, enquanto os CoCos dos bancos alemães, espanhóis e franceses são cancelados temporariamente e até que o índice de capitalização do banco esteja novamente acima do limite. No caso dos CoCos britânicos, são convertidos em ações quando ultrapassam esse limite.

Nosso Comitê sempre recomendou CoCos de bancos com perfis de crédito sólidos e sistemicamente importantes globalmente, em proporções bem administráveis ​​na formação de carteiras. Além disso, reconhecemos que existe uma reação um tanto irracional do mercado em relação a esse setor, razão pela qual acompanhamos de perto diferentes métricas que nos ajudam a reagir em tempo hábil a eventos relevantes do mercado.